O poder do exemplo e da inspiração para o empreendedorismo feminino
O que o empreendedorismo feminino nos ensina sobre protagonismo? As últimas décadas foram marcadas por lutas voltadas à igualdade de gênero. As mulheres conquistaram independência, sobretudo financeira, e desde então vêm ocupando espaços que antes eram reservados aos homens, sobretudo à frente de empresas.
O empreendedorismo feminino pode ser entendido como negócios idealizados ou administrados por mulheres, mas para além da função empresarial, este movimento tem o simbolismo de inspirar mulheres a empreender – o sucesso de uma dá exemplo para o sucesso de outras.
Empreendedorismo feminino é sinônimo de liberdade. É o acesso que pavimenta caminhos e permite que mulheres cheguem cada vez mais longe ganhando visibilidade na sociedade, inspirando e empoderando outras mulheres.
O número de mulheres à frente de um negócio segue crescendo. Segundo o Global Entrepreneurship Monitor 2020 (GEM), com dados do Sebrae, o Brasil é o 7º país com o maior número de mulheres empreendedoras no mundo. Neste contexto, o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios
é uma iniciativa que valoriza e incentiva o empreendedorismo feminino no Brasil, reconhecendo o trabalho e a dedicação de mulheres que contribuem para o desenvolvimento do país.
Desde 2004, o prêmio homenageia empreendedoras com capacidade de inovação, visão de futuro, estratégia e gestão empresarial que, com seus negócios, geram impacto social e econômico na região em que estão inseridas. Além de reconhecer o trabalho das empreendedoras, a iniciativa também tem como objetivo inspirar outras mulheres a investir em seus sonhos e acreditar em seu potencial empreendedor.
A etapa catarinense da premiação destaca o trabalho destas mulheres. Ao todo, Santa Catarina tem 16% de seus negócios tocados por mulheres e está entre os três estados com o maior número de empreendedoras do país, ao lado de Paraná e Rondônia, com o mesmo percentual. Mas quem são essas empreendedoras?
Segundo relatório de 2022 do Sebrae SC sobre empreendedorismo feminino, a média de idade desse público é de 42 anos, assim como a renda mensal familiar gira em torno de R$ 5.470,43. Quanto ao nível de escolaridade, 2% delas têm o Ensino Fundamental; 30,3% possuem o Ensino Médio e 67,8%, Ensino Superior. Quatro em cada dez empreendedoras respondem sozinhas pela renda familiar, metade delas são mães, 53% delas são casadas civilmente e aproximadamente 19% são separadas ou divorciadas.
Oito em cada 10 empreendedoras atuaram como funcionárias de outras empresas antes de abrir um negócio próprio, sendo que 60,6% delas atuavam em cargos funcionais. Apenas 4,8% das mulheres já tiveram outras empresas, além disso, 73,5% delas estão vivendo a primeira experiência como empreendedora.
Relevância do empreendedorismo feminino para a sociedade
Uma vantagem do estímulo e da inspiração provocados pelo empreendedorismo feminino é a diminuição da desigualdade de gênero. Mulheres empreendedoras atingem a independência financeira e essa é uma importante etapa para quebrar possíveis ciclos de violência e de negligência das próprias vontades.
Além disso, quanto mais pessoas estiverem envolvidas com um negócio próprio, mais a economia cresce. E não é necessário estar à frente de uma grande indústria ou de uma startup ultra tecnológica
para isso. De salões de beleza pequenos à comercialização de produtos artesanais na feira do bairro, todos esses movimentos geram emprego, elevam a renda média e melhoram a qualidade de vida das famílias.
Histórias de mulheres empreendedoras e movidas pela coragem
Claudia Roberta Schimendes Tiscoski, vencedora da etapa estadual do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios na categoria MEI à frente da Família na Trilha Operadora de Turismo de Aventura, em São José, viu na paixão por trilhas um combustível para empreender.
“O hábito de fazer trilhas era um lazer para toda a minha família. Hoje proporcionamos bem-estar às pessoas por meio de um contato revigorante com a natureza. Nossa empresa buscou aprofundar conhecimentos na etnobotânica e na técnica “banho de floresta”, filosofia japonesa de caminhar na natureza focando os sentidos em tudo o que ela pode oferecer’, explica.
Segundo ela, o empreendedorismo feminino é um sonho que se sonha junto a partir da inspiração. “A jornada empreendedora, porém, pode muitas vezes ser solitária. Por isso busquei conexão com outras mulheres empresárias, desenvolvendo habilidades de gestão, além de networking”, diz ela.
Já para outras mulheres, o caminho do empreendedorismo pode ser “menos romântico”, mas nem por isso menos recompensador. É o caso de Scheila Formigari, de Blumenau, proprietária da Mini Mam Comidinhas e finalista na categoria MEI. Ela produz bolos e outros doces adoçados apenas com frutas para bebês.
“Em 2015 meu primeiro filho nasceu. Na época, eu trabalhava em uma empresa há 11 anos e, logo que voltei da licença-maternidade, fui demitida. Em 2017, um tempo depois que meu segundo filho nasceu, comecei a procurar emprego, mas percebi que muitas empresas não gostam de contratar mães, principalmente com filhos pequenos. Eu sempre esbarrava nas perguntas: ‘Tem filhos? Qual a idade deles?’. Era evidente que não seria contratada. Comecei, então, a testar e desenvolver alimentos para bebês e percebi nisso uma oportunidade de negócio em minha própria cozinha, que me permite ficar mais tempo ao lado dos meus filhos e ainda ajudar outras mães, levando praticidade e saúde para suas casas”, relata ela.
Empreendedorismo feminino e propósito
Além de sustento para suas famílias e lucro, mulheres buscam, com seus negócios, gerar verdadeiras transformações na sociedade em que estão incluídas, sendo extremamente necessárias para gerar visibilidade a outras questões relacionadas ao universo feminino.
É o caso de Milena Luisa Rodrigues Alves, finalista do Prêmio Sebrae também na categoria MEI pela ML Gestão de Ideias e Projetos, em Florianópolis, que cria projetos e eventos para gerar relacionamento com famílias em ambientes corporativos.
“Comecei a ser desafiada pelas empresas a compartilhar minhas ideias, experiências e habilidades realizando eventos que gerassem relações mais humanas com seus clientes, já que o que se oferecia no mercado ainda não tinha a vida e a cor que estes momentos em família pedem. Acredito que podemos criar um mercado fortalecido com profissionais capacitados a desenvolver projetos únicos e experiências incríveis”, completa ela.
Sucesso, quedas e recomeços marcaram a trajetória vitoriosa de Ravine Gonçalves de Oliveira, finalista na categoria Pequenos Negócios pela Buuk Comunicação e Tecnologia, empresa sediada em Florianópolis que une marketing e tecnologia em projetos de presença digital. E assim, com uma história de altos e baixos, Ravine mostra a outras empreendedoras que as dificuldades existem, mas, com confiança e conhecimento podem ser perfeitamente contornáveis.
“Foram quase 8 anos entre abrir o CNPJ MEI e me tornar sócia de uma ME. Durante este longo período, houve de tudo: prestígio, muitos clientes, cargos importantes, convites relevantes, coluna no jornal, briga com sócia, processo judicial, diluição da empresa, dívidas impagáveis, retorno ao mercado formal, e depois recomeços maduros. Já atendemos mais de 100 contratos, desde que recomeçamos e temos uma taxa de permanência de funcionários e clientes acima de 85%”, conta ela.
A importância da rede de apoio
Contar com o apoio da família e de uma rede de apoio para viabilizar um sonho podem tornar a jornada de uma empreendedora mais acolhedora e confortável.
Foi o caso de Tatiana Pavei da Silva, ganhadora da categoria Pequenos Negócios com a Reino Vegetal Paisagismo, varejista e prestadora de serviços de jardinagem, localizada em Içara. Filha de uma bióloga, ela cresceu em jardins, cursou Agronomia e se apaixonou pelo universo das plantas ornamentais.
“Com a ajuda da minha mãe escolhemos o nome Reino Vegetal. Durante muitos anos ela foi meu braço direito. Por muitas vezes eu desacreditei, mas sempre tinha alguém acreditando por mim. Tive o apoio do meu irmão e um pai incansável, que distribuía cartões o tempo todo! Meu marido também emprestava o dinheiro que faltava. Receber esse apoio emocional da família foi muito importante para eu persistir. Foi então que em 2004 o negócio se estabilizou e finalmente crescemos”, complementa.
Por fim, reconhecer as lutas das mulheres e respectivas conquistas pode ser a principal mola propulsora do empreendedorismo feminino. É nisso que acredita Vanessa Grohskopf, finalista da categoria Pequenos Negócios pela VA Design & Branding, escritório de design e tráfego pago em São Bento do Sul e que atende todo o Brasil.
“Minha história de empreendedorismo é uma jornada inspiradora de paixão, determinação e perseverança. Desde cedo meu desejo de empreender já era evidente. Aos 10 anos eu já ajudava minha mãe nos afazeres do seu salão de beleza e tive a ideia de formalizar esse apoio, negociando para receber alguns trocados. Inicialmente, atuei sozinha, mas à medida que os projetos cresceram, vi a necessidade de expandir e contratar colaboradoras talentosas para me ajudar. O diferencial do meu negócio reside no compromisso contínuo com a excelência”, finaliza.
Sobre o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios
A premiação é composta por três etapas distintas: estadual, regional e nacional. A jornada começa com a inscrição gratuita, na qual as empreendedoras gravam um vídeo e se inscrevem em uma das três categorias disponíveis: Pequenos Negócios, Microempreendedor Individual (MEI) e Produtora Rural. Após o período de inscrição, as candidaturas passam por uma validação para garantir que estejam de acordo com os critérios estabelecidos e dentro do prazo determinado pelo regulamento.
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